__________ Itapema, suas histórias... __________

segunda-feira, 12 de julho de 2010

BOCAINA (Célula-mater itapemense)

VISTA AÉREA DA VILA DA BOCAINA -ITAPEMA/SP (ANOS 40), GRADATIVAMENTE EXPULSA DO SEU SÍTIO ORIGINAL DEFRONTE AO LARGO DE SANTA RITA.

No extremo noroeste da Ilha de Santo Amaro residiam os moradores da Vila da Bocaina, núcleo caiçara originador do Distrito de Vicente de Carvalho.
De origem túpica, "Bóc'aina", seundo João Mendes, abertura desbanatada, rasa - passagem rasa de um ponto a outro. Ficava defronte ao Largo de Santa Rita, e era antigo reduto de pescadores (mestiços de escravos, e portugueses com índios, que viviam da pesca, do plantio de roças, de onde tiravam o sustento), alguns remanescentes das primeiras ocupações, desde o século XVI. Ajuntaram-se tempos mais tarde imigrantes japoneses, portugueses e italianos, trabalhadores dos bananais vizinhos, do cais e carpinteiros navais.
"O riacho e a Bocaina, eu lembro ainda,
 Aquela boa gente, os pescadores,
 Homens distintos, nobres, só valores
 Desta história tão simples, porém linda..." - Nos remete Lydio Martins Corrêa, poeta itapemense, ao vilarejo de outrora.
A Bocaina compreendia as imediações do Forte de Itapema, onde havia um caminho e terminava pros lados do Saco da Embira, sendo a concentração maior de moradias.
As casas da Vila eram construídas em madeira (nossos tradicionais chalézinhos) e as ruas de terra batida (detalhe da foto à direita). Não havia água encanada e a mesma era obtida das bicas comunitárias. Os que não iam buscá-la no centro do Itapema, ali compravam a 200 réis cada uma lata d'água no bairro. A luz inicialmente era a base de lampião.
Por volta de 1910, a Vila da Bocaina contava com 400 casas e Escola para crianças do sexo feminino, atendia 32 alunas e tinha como Professora a Srª Maria dos Santos Lima.
 MARGEM DA VILA DA BOCAINA - ITAPEMA/SP - DÉCADA DE 40 (repare no Morro Magdatá ao fundo).

Conforme pesquisa, a única praça da Bocaina chamava-se 'Largo do Riacho'. Nela estavam localizados os estabelecimentos comerciais: quitanda, armazém de secos e molhados, açougue etc. A Av. Beira-mar ladeava a praça (local onde também ficava o Cine 15 de Abril), percorrendo paralela à Avenida da Liberdade. Constavam ainda como logradouros, a Rua Terceira e a R. Áurea.
Apesar da origem modesta o bairro abrigou os nascentes clubes náuticos da época. O Clube de Regatas Santista, fundado em 1893, com sede na Bocaina, somente deixou a localidade em 1943. Que conjuntamente com o Clube Internacional de Regatas promoviam competições a remo defronte ao lagamar.
 ESTALEIRO NAVAL NA BOCAINA, DO MESTRE JOSÉ DOS SANTOS CLAUDIO.

Ao longo da margem da Bocaina desenvolveram-se diversas atividades marítimas, uma delas foi a carpintaria naval, como o estaleiro do Sr. Vicente Lazzarini ou do Mestre José dos Santos Claudio.
Contudo, o vilarejo padecia com o descaso das autoridades. Os moradores não deixavam de reivindicar melhorias. Pois havia serviço de navegação entre a Bocaina e Bertioga subvencionado pelo Governo do Estado, desativado pela Empresa contratante, por falta de fiscalização do Estado. A fim de suprir a carência o Sr. Manuel Sobradinho de Almeida dispunha de uma lancha que conduzia passageiros pela quantia de 500 réis, contando com o apoio do moradores, os quais pediam regularização. Devido a concorrência desorganizada de outras embarcações , em casos urgentes, para condução do médico, o preço de uma lancha era de até 25$.




Numa Sexta-feira, 6 de Fevereiro de 1914 (detalhe da imagem à esquerda), o jornal santista 'A Tribuna' (em matéria redescoberta pelo site histórico Novo Milênio) noticiou melhorias no "futuroso" bairro da Bocaina, depois de visita do Prefeito Sr. Carlos Luiz de Affonseca. Estavam previstos melhoramentos no fornecimento de água, iluminação, transporte. Havia também a necessidade de capinação, de reparos de pontilhões e construir outros. Lamentavelmente muitas das tais promessas não foram levadas a termo devido a desapropiação da Vila da Bocaina para instalação da Base de Aviação Naval.
A partir de 1923, os habitantes do bairro são deslocados pela Força Aérea para as cercanias e imediações da atual Av. Thiago Ferreira.
A capela existente dentro da Base Aérea seria a antiga Capela de Santa Cruz do Riacho, remanescente da Vila da Bocaina. É possível que esta denominação e/ou sua construção no vilarejo esteja liagada a uma remota referência ao Farol, já nominado Forte de Santa Cruz do Itapema. O que restou do riacho deságua débil no estuário, junto ao campo de futebol do E.C. Canto da Coruja.
NOTÍCIA PUBLICADA NO JORNAL 'A TRIBUNA' (01/09/1942).

Após muita resistência, e com insistente pressão psicológica dos orgãos públicos, inclusive com anúncios em jornal, a Vila da Bocaina foi extinta em meados da década de 50.
 BOCAINA TOTALMENTE DESAPROPRIADA EM MEADOS DOS ANOS 50, COM AS INSTALAÇÕES DA BASE AÉREA (ao fundo percebe-se o Morro de Itapema).

É desta forma que Lydio Martins Corrêa expressa a saudade do lugar sentida por um amigo, morador da Bocaina. Sentimento este de tantos outros:

"O que tu sentes, Celso, é nostalgia
 Da Bocaina saudosa, sempre calma,
 O tempo, ali parava e dava à Alma,
 Motivo de beleza e de alegria.

 Tudo acabou, jamais vais vê-la um dia
 Isso que tens na mente ardente e incalma
 Vai aos poucos, cedendo e alcança a palma
 Junto do teu lirismo e da poesia."

MARGEM DA BOCAINA - SÉCULO XXI (nos fundos do campo do E.C. Canto da Coruja) ITAPEMA-SP.

Um comentário:

  1. OMG não tinha o prédio na nona foto ooh ,quando o p´redio foi construido?

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