__________ Itapema, suas histórias... __________

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

VICENTE DE CARVALHO - o poeta

BUSTO DE VICENTE DE CARVALHO INSTALADO NA PRAÇA DO POETA, ENTRE A AV. THIAGO FERREIRA E A RUA BAHIA - EM DECORRÊNCIA DAS COMEMORAÇÕES PELO SEU CENTENÁRIO DE NASCIMENTO [ITAPEMA/SP] 2005.

Vicente Augusto de Carvalho nasceu no dia 05/04/1866, em Santos/SP (Litoral Paulista). Filho do Major Higino José Botelho de Carvalho e D. Augusta Carolina Bueno de Carvalho (descendente de Amador Bueno, o Aclamado). Foi Advogado, Jurisconsulto, Político, Escritor, Boêmio, além de Homem de Negócios. Militou no jornalismo, colaborando em diversos jornais, revistas, na sua cidade natal e São Paulo. O poeta Vicente de Carvalho é uma das figuras mais controversas de sua geração. E não se trata apenas do seu tombamento nas correntes literárias da época. Mas da própria avaliação da obra do Poeta, tanto mais da atividade política e marcante personalidade.
Dando prosseguimento aos estudos escolares (1878), matriculou-se no 'Seminário Episcopal', em São Paulo. Nesses idos, aconteceu de Vicente e uns colegas incentivarem o copeiro do Colégio a levar, às escondidas, comida a um negro fugido do seu "Senhor", que se escondera num terreno pertencente a Instituição. Descoberto, o escravo foi castigado pelos padres diante de Vicente e seus companheiros, contradizendo às pregações de amor ao próximo. Revoltado, o jovenzinho Vicente de Carvalho tomou a única atitude que lhe parecia coerente, escreveu ao pai pedindo para tirá-lo do Colégio e abandonou o 'Seminário Episcopal', indo para a casa de parentes.
Em 1882, ingressa no Curso de Ciências Jurídicas e Sociais (Faculdade de Direito), na Capital Paulista.
Desde cedo revelou inteligência e caráter, aos 19 anos seria eleito membro do Diretório Republicano de Santos. Convicto de seus ideais, fez parte da "Boêmia Abolicionista" subscrevendo artigos e folhetins de propaganda. Ativo grupo contra a escravatura, cujas reuniões muitas vezes se realizaram nos bancos de Praças públicas, impedidos que eram pelas autoridades policiais de irem a Sede. Privando com o o grupo dos "Caifases", de Antono Bento, junto de seus amigos Guilherme de Melo, Arthur Andrade, Pedro de Melo, Rubim César e Alberto de Souza, o Poeta encaminha diversos negros fugidos para o Quilombo do Jabaquara.
BUSTO DO POETA VICENTE DE CARVALHO NUMA ANTIGA POSIÇÃO NA PRAÇA [ITAPEMA/SP].
  
No ano de 1886, graduação como Bacharel pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (São Paulo). No dia 7 de Março de 1888 casa-se com Ermelinda Ferreira de Mesquita, que lhe dará 15 filhos.
Em 1891 é eleito Deputado para a Assembléia Constituinte de São Paulo. No mês de Janeiro de 1892 entrara para a Secretaria do Interior do Estado, tomando o encargo de organizar o Serviço Sanitário Estadual em novos moldes de acordo  com a orientação de torná-lo eficiente. Convida Louis Pasteur a vir trabalhar no Brasil, este colabora indicando excelentes profissionais. Traz Félix Le Dantec e Profº Lachaud, criando o Instituto Bacteriológico. Solicita os serviços do renomado Engenheiro Sanitário E.A. Fuertes, para implementar obras de saneamento. Esta equipe de sanitaristas prestou grandes serviços ao Estado paulista. Em sua gestão as autoridades do Serviço de Higiene do Estado e a municipalidade santense instalaram um Lazarento para variolosos, no Pae Cará (Itapema/SP), hospital que também auxiliou na guerra contra as constantes epidemias.
VICENTE AUGUSTO DE CARVALHO - POETA QUE DÁ NOME AO DISTRITO, LOCALIZADO NA ILHA DE SANTO AMARO/SP.

Dentre as atribuições de sua Pasta, procedeu a reformulação do Ensino Paulista, dividindo-o em três estágios (primário, secundário e superior). Para modernizar os métodos de Ensino antiquados trouxe a Professora norte-americana Miss Brown, que criou o primeiro "Jardim de Infância" oficial. Deu ênfase também ao Ensino Técnico-Profissionalizante, autorizaria a fundação de uma Escola Superior de Agricultura e outra de Engenharia, em São Paulo. O Secretário do Interior Dr. Vicente de Carvalho permaneceu no cargo até Setembro deste mesmo ano.
BUSTO VICENTE DE CARVALHO - PRAÇA EM ITAPEMA/SP.
    
Na Ilha de Santo Amaro possuía terras nas proximidades de onde hoje é a Praia de Pitangueiras, circunscritas as imediações do Morro do Botelho no município de Guarujá/SP.
A informação mais específica de que o poeta Vicente de Carvalho conheceu Itapema, ou por aqui esteve, é a menção feita em matéria do Jornal 'Correio Paulistano' (Setembro de 1893), registrando que este integrara a comitiva a bordo da "Maria-Fumaça", no percurso da E.F. ITAPEMA-Gjá (SP-2066), a qual viera para a inauguração da Estância Balneária.
O "POETA DO MAR" VICENTE DE CARVALHO.

Republicano consciente, Abolicionista, considerava-se um "Livre-Pensador". No ano de 1895, em Carta Aberta ao Jornal 'Estado de São Paulo', onde colaborava, comunica sua adesão aos preceitos filosóficos do Positivismo difundidos por Auguste Comte. Sobretudo, "viver às claras". 
Sempre demonstrou paixão pelos problemas concretos da vida nacional e dos interesses coletivos. Afirmou a respeito das turbulências políticas naquele Brasil de então:
"- O país aderiu, não à República, mas ao Governo."
Em 1908 alça outro posto, nomeado Juiz de Direito. Tendo seguido com brilhantismo a carreira Judiciária foi escolhido para Ministro do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, no ano de 1914.


[Vicente de Carvalho caricaturado por Anatolio Valladares - Carnaval 1903] 


Vicente de Carvalho viu-se envolvido em algumas polêmicas:
Iniciou-se o Poeta na prosa numa celeuma com outro poeta da época Dias da Rocha, onde refutava-o de suas idéias.
Em 1891, foi um dos 8 deputados que renunciaram após a aprovação da proposta de apoio ao Golpe de Estado, do Marechal Deodoro da Fonseca.
Tomou parte ativa no Movimento para deposição do Presidente do estado de São Paulo, Américo Brasiliense. Depois de assumido o Governo Estadual pelo Vice-Presidente Dr. José Alves de Cerqueira César, veio a ser nomeado Vicente de Carvalho para o cargo de Secretário do Interior.  
Quando foi acusado de locupletar-se do Cargo por parte de um colega Secretário de Estado, pediu demissão da Pasta. Num encontro em uma solenidade pública com o difamador desferiu-lhe um tapa no rosto dizendo, "o Senhor insultou-me em ofício: eis a resposta!"
Ligado a negócios comerciais, em 1902 fundou a Empresa 'Silva Martins & Cia. Fluvial Sul Paulista', companhia de navegação na Ribeira de Iguape' (SP), com o sócio João da Silva Martins, subvencionada a custa do Governo.
Para ironia dos acontecimentos futuros,  o poeta Vicente de Carvalho ignorou alguns Sonetos enviados pelo jovem escritor Mário de Andrade (seu admirador) através do correio. Pois deveras decepcionou aquele que depois seria um ícone do Modernismo Brasileiro.
Quando do crash da Bolsa de New York no ano de 1929, o negócio do café brasileiro decaiu atingido pela crise nos Estados Unidos. Antes da queda no mercado externo o valor do produto já vinha sofrendo perdas financeiras. O Governo intervinha no mercado adquirindo o excedente da volumosa produção cafeeira, a fim de garantir melhores preços do produto. Neste fatídico ano o preço da saca de café caiu muito mais. A valores baixíssimos, o Brasil que detinha 60% do mercado internacional não conseguia exportar os grãos de café e acumulava enorme estoque em armazéns do Porto de Santos, bem como noutras cidades do interior paulista. A saída encontrada pelo Governo Provisório Getulista determinou a compra de 18 milhões de sacas de café, e mandou queimar centenas de milhares delas para fazer subir o preço do produto brasileiro no mercado externo. Esta drástica atitude revigorou os preços, normalizou a situação dos Fazendeiros e setores da economia. Contudo, efeitos colaterais foram sentidos pela medida extrema, mais desacertos na política econômica brasileira veio a gerar alta inflação.
O político Dr. Vicente de Carvalho, ainda em 1901, defendia a queima do excesso das sacas de café estocado, como solução para o problema da exagerada oferta de café no mercado internacional. Muito por conta da atividade que empreendeu (1896) enquanto Fazendeiro da agricultura cafeeira, durante 5 anos, no interior de São Paulo.
Neste ano inclusive publica o Livro 'A Solução da Crise do Café', valendo-se de planilhas, dados e argumentos contextualizados justificando a sua tese. Deveriam ser queimados seletivamente, em etapas de porcentagem, os grãos de café ruins, de modo a elevar a qualidade do produto e os preços.
Parte da medida seria tomada a partir da crise de 1929. Embora Vicente de Carvalho não possa ter constatado o equívoco desta proposta econômica.
O CONTROVERSO VICENTE DE CARVALHO.

Duma feita (1906), o poeta desentendeu-se com um pescador. Caiçara rústico, valente, quanto vingativo. O tal armou-se de uma espingarda, indo aguardar sua passagem numa tocaia, afim de matar Vicente de Carvalho. Vinha o escritor sozinho, bem desprevenido pelo caminho da "picada", quando percebeu a sombra do indivíduo traiçoeiro, o cano da arma entre as folhagens. Imperturbável e seguro de si mesmo, certo da impressão que causaria a postura de coragem diante do adversário, parou olhando-o encoberto na moita... Sorriu e acendeu um cigarro soltando uma lenta baforada. Mas receia a insensatez... O pescador por dentro agita-se em turbulenta raiva inaudita. Dá um passo, empunha e faz mira. Esse Dr. havia de pagar os ditos à cara. Bastava premer o dedo no gatilho, soltar o "cão". Só porque era homem poderoso... De tantas posses, um senhor da lei... O trinado metálico das maritacas nas galhadas das imbaúbas riscou aquele breve silêncio. Apequenou-se o turro caiçara. Indecisos pensamentos lhe assolam, a mão titubeava... Então baixou a arma vencido, se retirando para sua cabana.
Durante a vida pública Vicente de Carvalho fustigou os opositores escrevendo artigos nos jornais.
Como o Poeta fosse a princípio contrário a criação da Academia Paulista de Letra (APL), entendendo bastar a representatividade nacional. Quando a APL foi fundada com 40 Imortais da Literatura Paulista, o nome de Vicente de Carvalho não figurava... Fora excluído! 
CHARGE PUBLICADA NA IMPRENSA IRONIZANDO VICENTE DE CARVALHO [1903].

O mar lhe atraía. Repousa os olhos na paisagem marinha... Lhe é sugestivo, aprofunda-se em si mesmo, revela as agitações da alma humana. Era aficionado pela pesca.
Num episódio que mostra o lazer do Poeta na Estância Balneária guarujaína, certa vez enquanto pescava camarões num rio da Ilha Santo-amarense (possivelmente o Rio Santo Amaro) para aproveitá-los como isca em suas pescarias, no costão da Praia da Enseada, foi abordado por 2 homens estrangeiros, bem vestidos, os quais desejavam atravessar o rio. Como Vicente de Carvalho estivesse descalço, com as pernas das calça arregaçadas até os joelhos e usando chapéu-de-palha, igual dos pescadores, tomaram-no como tal. Os homens então pediram-lhe a passagem em sua canoa, ali fundeada na margem. Compreendendo a situação dos estrangeiros fez a travessia. Ao desembarcarem perguntaram-lhe quanto seria o serviço prestado, o Poeta respondeu que nada tinham a pagar. Insistiram em saber quanto deviam, porém este disse que não era balseiro, mas um simples pescador, portanto nada deveria cobrar. Assim mesmo um dos estrangeiros ofereceu-lhe uma moeda de 400 Réis, agradecendo pelo feito e que não recusasse, pois mais tarde poderia "tomar um gole". Sem se sentir humilhado, o "pescador" acabou aceitando a moeda, conservando seu anonimato.
Dias depois, numa crônica publicada no Jornal 'A Tribuna" relata o episódio pitoresco, sem citar nomes. Um dos estrangeiros (Cônsul da Alemanha), reparou que era com ele o fato narrado e resolveu visitar a Redação para conhecer o autor daquela crônica, prontamente lhe apresentado. A quem, mais que depressa, alegremente pediu (num "brasilemão) constrangidas desculpas. Ao que Vicente de Carvalho aceitou e agradeceu-lhe a moeda. 
 Aliás em decorrência de um acidente durante pescaria no Litoral Paulista (retornando da "Ilha Queimada Grande"), tendo depois se agravado a lesão provocou grave infeccionamento, veio este a amputar seu braço esquerdo quase à altura do ombro (1907), o que debilitou bastante a saúde de Vicente de Carvalho.
Brincava conformado a respeito:
"- Camões não foi manco de um olho? Eu sou caolho de um braço."
BUSTO VICENTE DE CARVALHO - "POETA DO MAR" [ITAPEMA/SP] 2011.

As agruras da vida não esmoreciam o espírito carnavalesco do poeta Vicente de Carvalho. Reconhecedor da expressão popular do Carnaval como legítima. Folião dos festejos de Momo, por isso ironizado em caricatura de jornal da época. Refletiu o escritor numa crônica de 1900:
"Parece que só o Carnaval resiste, sempre viçoso e sempre transbordante de alegria, à onda de inconstância que transforma e substitui de geração à geração, as transitórias coisas humanas...
(...)Tudo cansa, tudo se arruína, tudo passa, menos o Carnaval. Só ele sobrenada no oceano de destroços que é a vida humana... (...)de todas as festas populares que o tempo desapiedado vai varrendo das nossas almas e dos nossos costumes, fica, eternamente juvenil, em consagração de três dias do ano às loucuras da Alegria...
(...)Seria interessante indagar de que fios de complicada psicologia se trama esse fenômeno de resistência sem exemplo oferecido pela alma inconstante dos homens à ação implacável do tempo. Não é certamente o vosso espírito, ó dominós espirituosos; nem o teu barulho, ó Zé Pereira barulhento; nem o vosso aparato, ó bandos carnavalescos deslumbrantes da fácil riqueza de papel dourado e das sedas imitadas com economia; nem a vossa chuva multicor, que faz noite estrelada na cabeleira das mulheres, ó confete; nem o vosso esguicho, amável, sóbrio, perfumado, ó bisnagas que representais a civilização da antiga seringa, pródiga de simples água do pote ou da água complexa das sarjetas...
(...)O Carnaval, essa consagração de três fugitivos dias do longo ano à loucura, explica-se como uma instintiva revolta do homem, condenado a uma vida eriçada de asperezas, escravizado entre grades de cárceres de uma civilização toda feita de complicadas conveniências que o obrigam a viver aprumado, de leis que o guiam como o freio guia o cavalo, mal domado, de necessidades adquiridas que o espoream, de lutas extenuantes que lhe absorvem a alma, e de colarinhos engomados que lhe torturam o corpo..."     
Tinha por influências literárias Byron, Schiller, Spencer. Entretanto, parnasiano independente, Vicente de Carvalho [Estatuária à esquerda] não estreitava sua inspiração ao Estilo.
Comenta ele sua poesia (1908):
"(...)no verso, as idéias e a expressão fundem-se, e não há meio de as separar. Não creio que haja poetas da forma e poetas de outra espécie. Não sei de poeta digno desse título que valha por obra em estilo atamancado."
Mais conhecido como "Poeta do Mar", nos seus poemas versa com maestria e de forma requintada tantos outros temas. Dono de vivo sentimento da Natureza detém ainda, um senso amoroso que se exprime com delicada preciosidade.
Sua poesia não tem como inspiradora a Musa estrangeira. Não vagam entidades gregas, ou o cenário importado a realidade do poeta. É a vegetação, a natureza brasileira no seu esplendor que figuram nos versos vicentinos. Importava-lhe o que via, não aquilo que lera.
Aponta a crítica literária sobre o estilo de Vicente de Carvalho:
"(...)um poeta que se preza de dizer-se descendente dos Guaianás e em cujos versos, ao contrário de seus colegas do Parnaso, não vagavam deuses gregos, nem cresciam faias e bétulas, mas os simples caraguatás da Serra e as palmeiras de beira-mar..."
No ano de 1909, eleito para a Academia Brasileira de Letras (ABL), cadeira Nº 29. Não tomou posse solenemente, deixando de fazer o Elogio ao seu antecessor Artur Azevedo, embora frequentasse a Academia. Em 1911, apesar de antiga divergência toma posse e assenta-se na cadeira Nº 37, da Academia Paulista de Letras.
Manuel Bandeira define-o entre todos os Parnasianos Brasileiros, "o mais vário, mais completo, mais natural, mais comovido". Hábil na construção dramática e épica do poema.
ESTUDANTE RECITA VERSOS HOMENAGEM AO POETA VICENTE DE CARVALHO [SÃO PAULO] 1918.

Teve como amigos Júlio Ribeiro, Silva Jardim, Euclides da Cunha (que prefaciou o Livro 'Poemas e Canções').
Disse Brasílio Machado sobre o "Poeta do Mar":
"(...)não fosseis vós um impenitente pescador de... peixes, quando em vez, e sempre um pescador de pérolas."
Escreveu 'Ardentias' (1885), 'Relicário' (1888), 'Rosa, rosa de amor...' (1902), 'Poemas e Canções' (1908), detalhe da imagem ao lado, 'Versos da Mocidade' (1912), 'Páginas Soltas' (Prosa,1911), 'Luizinha' (Comédia Teatral, 1924). Crônicas, Artigos e alguns Contos, compoem a produção literária do Autor. Já traduzido em Línguas estrangeiras (italiano, espanhol).
Diz Ele convencido de sua legítima ambição de Poeta, "só explica tão forte empenho posto em granjear tão modesto resultado, com é um livro de versos, aquele fortíssimo instinto, profundamente humano, que se rebela contra a morte, sonhando para depois dela, uma continuação, ainda que modificada, da vida. A ambição de deixar a sua alma ecoando sonoramente em outras almas, através do tempo, é, sem dúvida, o incentivo dos poetas e a ilusão de quase todos eles... Que recompensa melhor promete alguma religião aos que estimula, na incerta e penosa conquista do céu?"  
Vicente de Carvalho faleceu, aos 58 anos, numa madrugada do dia 22/04/1924 e seu corpo sepultado no Paquetá.
BUSTO POETA VICENTE DE CARVALHO [ITAPEMA/SP].

A partir de 30 de Dezembro de 1953, através de Decreto Estadual Nº 2. 456 (sem consulta popular), seu nome passou a denominar o Distrito de Vicente de Carvalho (Litoral paulista), outrora conhecido por ITAPEMA.
Em comemoração ao Centenário de Nascimento do Poeta Vicente de Carvalho (1966), o Distrito ganhou um seu Busto numa Praça entre a Av. Thiago Ferreira e a Rua Bahia (Bairro Vila Alice), centro de Itapema/SP.
O nome do Poeta designa também a Avenida Vicente de Carvalho, no Bairro Jardim Santana.
PRAÇA POETA VICENTE DE CARVALHO ENTRE A AV. THIAGO FERREIRA E A RUA BAHIA [ITAPEMA/SP] 2011.
PRAÇA POETA VICENTE DE CARVALHO - BAIRRO VILA ALICE [ITAPEMA/SP] 2011.
PRAÇA POETA VICENTE DE CARVALHO IMEDIAÇÕES RUA BAHIA [ITAPEMA/SP] 2011.
AV. VICENTE DE CARVALHO - BAIRRO JARDIM SANTANA [ITAPEMA/SP] 2012.
AVENIDA VICENTE DE CARVALHO [ITAPEMASP] 2012.
     
De maneira a melhor ilustrar a poesia de Vicente de Carvalho, vejamos a seguir alguns exemplos de célebres poemas da sua autoria:

                                       do "VELHO TEMA" - I

               "Só a leve esperança, em tôda a vida,
                 Disfarça a pena de viver, mais nada;
                 Nem é mais a existência, resumida,
                 Que uma grande esperança malograda.

                 O eterno sonho da alma desterrada,
                 Sonho que a traz ansiosa e embevecida,
                 É uma hora feliz, sempre adiada
                 E que não chega nunca em tôda a vida.

                 Essa felicidade que supomos,
                 Árvore milagrosa que sonhamos
                 Tôda arreada de dourados pomos,

                 Existe, sim: mas nós não a alcançamos
                 Porque esta sempre apenas onde a pomos
                 E nunca a pomos onde nós estamos."

VICENTE DE CARVALHO, "POETA DO MAR".

                                de "SUGESTÕES DO CREPÚSCULO" - II

                    "Estranha voz, estranha prece
                      Aquela prece e aquela voz,
                      Cuja humildade nem parece
                      Provir do mar bruto e feroz;

                      Do mar, pagão criado às soltas
                      Na solidão, e cuja vida
                      Corre, agitada e desabrida, 
                      Em turbilhões de ondas revôltas;

                      Cuja ternura assustadora
                      Agride a tudo que ama e quer,
                      E vai, nas praias onde estoura,
                      Tanto beijar como morder...

                      Tôrvo gigante repelido
                      Numa paixão lasciva e louca,
                      É tôda fúria: em sua bôca
                      Blasfema a dor, mora o rugido.

                      Sonha a nudez: brutal e impuro,
                      Branco de espuma, ébrio de amor,
                      Tenta despir o seio duro
                      E virginal da terra em flor.

                      Debalde a terra em flor, com o fito
                      De lhe escapar, se esconde - e anseia
                      Atrás de cômoros de areia
                      E de penhascos de granito:

                      No encalço dessa esquiva amante
                      Que se lhe furta, segue o mar;
                      Segue, e as maretas solta adiante
                      Como matilha, a farejar.

                      E, achado o rastro, vai com as suas
                      Ondas e a sua espumarada
                      Lamber, na terra devastada,
                      Barrancos nus e rochas nuas..."

IMEDIAÇÕES PRAÇA POETA VICENTE DE CARVALHO [ITAPEMA/SP] 2011.
  
                                      do "VELHO TEMA" - II

               "Eu cantarei de amor tão fortemente
                 Com tal celeuma e com tamanhos brados
                 Que afinal teus ouvidos, dominados,
                 Hão de à fôrça escutar quanto eu sustente.

                 Quero que meu amor se te apresente
                 - Não andrajoso e mendigando agrados,
                 Mas tal como é: - risonho e sem cuidados,
                 Muito de altivo, um tanto de insolente.

                 Nem êle mais a desejar se atreve
                 Do que merece: eu te amo, e o meu desejo
                 Apenas cobra um bem que se me deve.

                 Clamo, e não gemo; avanço, e não rastejo;
                 E vou de olhos enxutos e alma leve
                 À galharda conquista do teu beijo."

TARDE ENSOLARADA PRAÇA POETA VICENTE DE CARVALHO [ITAPEMA/SP] 2011.
 
                                             MENINA E MOÇA

                    "Tu, que és quase uma criança
                      E que enlevada sorris
                      À tentadora esperança
                      De ser amada, e feliz:

                      Sê formosa; entre as formosas
                      Reina e brilha, se puderes
                      Que a beleza nas mulheres
                      É como o viço nas rosas.

                      Sendo bonita e mais nada
                      Cumpre a mulher com fulgor
                      Sôbre a terra iluminada
                      O seu destino de flor.

                      Sê bondosa; entre as melhores
                      Sê a melhor, se puderes:
                      Que a bondade nas mulheres
                      É como o aroma nas flores.

                      Meiga, formosa, querida,
                      Ama e sê amada: o amor
                      Na areia sôlta da vida
                      Brota roseiras em flor.

                      Serás feliz? Ai, não queiras
                      Ser feliz: às mais ditosas
                      Brotam mágoas entre as rosas
                      Como espinhos nas roseiras...

                      Tu, que és quase uma criança
                      E acreditas quanto diz
                      A enganadora esperança
                      De ser amada e feliz,

                      Sê resignada: a roseira
                      Que mais viça e mais prospera
                      Dá rosas na primavera
                      E espinhos a vida inteira..."

PRAÇA POETA VICENTE CARVALHO IMEDIAÇÕES AV. THIAGO FERREIRA [ITAPEMA/SP].
    
                      de "FUGINDO AO CATIVEIRO" (TRECHO) - II

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                                           "(...)Rajadas sorrateiras
        De um vento preguiçoso arfam de quando em quando
        Como um vasto motim que passa sussurrando:

        E em cada árvore altiva, e em cada humilde arbusto,
        Há contorções de raiva ou frêmitos de susto.

        A mata é tropical: basta, quase maciça
        De tão cerrada. Ao pé do tronco dominante,
        Que, impertubàvelmente imóvel, inteiriça
        Sob a rija galhada o torso de gigante,
        - Uma vegetação turbulenta e bravia
        Rasteja, alastra, fura, enrosca-se, porfia:
        Moutas de craguatás agressivos; rasteiras
        Trapoeirabas tramando o chão todo; touceiras
        De brejaúva, em riste as flechas ouriçadas
        De espinhos; e por tudo, e em tudo emaranhadas,
        As trepadeiras, em redouças balouçando
        Hastes vergadas, galho a galho acorrentando
        Árvores, afogando arbustos, brutalmente
        Enlaçando à jissara o talhe adolescente...
        Cem espécies formando a trama de uma sebe,
        Atulhando o desvão de dous troncos; a plebe
        Da floresta, oprimida e em perpétuo levante.

        .....................................

        (...)Na confusão da noute, a confusão do mato
        Gera alucinações de um pavor insensato,
        Aguça o ouvido ansioso e a visão quase extinta:
        Lembra - e talvez abafe - urros de onça faminta
        A mal ouvida voz da trêmula cascata
        Que salta e foge e vai rolando águas de prata.
        Rugem sinistramente as moutas sussurrantes.
        Acoutam-se traições de abismo numa alfombra.
        Penedos traçam  no ar figuras de gigantes.
        Cada ruído ameaça e cada vulto assombra.

                    Uns tardios caminhantes
        Sinistros, meio nus, esboçados na sombra,
        Passam, como visões vagas de um pesadelo...

        São cativos fugindo ao cativeiro. O bando
        É numeroso. Vêm de longe, no atrôpelo
        Da fuga perseguida e cansada. Hesitando,
        Em recuos de susto e avançadas afoutas,
        Rompendo o mato e a noute, investindo as ladeiras,
        Improvisam o rumo ao acaso das moutas..."

BUSTO DO "POETA DO MAR" VICENTE DE CARVALHO [ITAPEMA/SP] 2011.
     
Eis um raro fragmento de sua diversificada poesia:

                                        do "FAUSTO" (fragmento) - voz:

                    "Alma que pairas suspensa
                      Em nuvens de ínfima fé,
                      Lastimas que a minha crença
                      Seja tão frágil como é.

                      Aflige-te este sossego
                      Com que, sem medo e sem norte,
                      Sigo com passos de cego
                      Pela vida e para a morte.

                      Supões, trêmula de susto,
                      Que eu, vivendo assim, depois,
                      Perca o céu que a tanto custo
                      Tentas ganhar para os dois.

                      Em teu coração aflito
                      Receias que sobrenade
                      O nosso amor infinito
                      Num vácuo de eternidade.

                      Fazes o que te compete,
                      Eu, o quanto em mim está:
                      Crês no que o céu te promete,
                      Eu, no que a terra me dá."

ASSINATURA DO POETA VICENTE DE CARVALHO [1908].

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