__________ Itapema, suas histórias... __________

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

PELAS BANDAS DO ITAPEMA

ATRACADOURO DO CLUBE INTERNACIONAL DE REGATAS EM ITAPEMA/SP (1919).

Foi graças inicialmente à simpatia dos sócios do Clube Internacional de Regatas pelo Fiel Talaça, vira-lata da mais fina estirpe, que o botequim de pau-a-pique do Preto Martinho no terreno ao lado da sede de Itapema ganhou renome.
Ainda na construção das instalações, o cão invadira o clube náutico tornando-se benquisto dos seus frequentadores. Logo quiseram saber de onde tinha vindo o maroto. Não tardou para que descobrissem sua origem, vingando numa profícua amizade com o verdadeiro dono. [na imagem abaixo à esquerda, garagem de barcos do CIR.] 
Talaça galgou o posto de cão-de-guarda. Não havia esse que adentrasse a garagem náutica, o bangalô, sem sua restrita permissão.
Aos domingos atravessavam as cercas-vivas de bambu para encontros saborosos no bar do itapemense. Preto Martinho recebia os homens palmeando trechos de uma música qual os sócios cantavam na sede a pilheriar entre si.
"Por remar em canoé
 Deixou de ir ao Pae-Cará
 Joaquim Amorim Netto
 Vulgo gragoatá.

 (...)Quem sabe inventa
 Quem não sabe imita..."

 Todos então já riam-se emendando o canto:

- É tubarão? Não é.
  É jacaré? Não é.
  Então, o que é afinal? - Ao que os remadores bradavam o nome do clube.
ALÉM DO REMO, OUTRAS ATIVIDADES ESPORTIVAS E SOCIAIS ERAM PROMOVIDAS PELO CIR (no detalhe da foto acima repare num cão sob a embarcação).

Iam lá provar a caldeirada de siri acompanhada da famosa "caldinho de unha", pinga com frutas feita por Martinho sem muito asseio.
- O álcool mata... - Atestava um gaiato, conhecedor da bebida. Comentário suficiente para dar mote às piadas.
- Depois dessa, vocês nadam daqui até o outro lado do canal com os braços nas costas. - Repercutia um moço, as faces coradas.
- Remo sem parar até o Rio Tietê! - Arrematou um terceiro virando a caneca.
Cada um encontrava um chiste para zombar dos efeitos daquela exótica "garrafada". 
REGIÃO ATUAL ONDE FICAVAM AS INSTALAÇÕES DO CLUBE INTERNACIONAL DE REGATAS EM ITAPEMA-SP.

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

ALDEIA UNIVERSAL

Conversávamos sob o busto do poeta Vicente de Carvalho, eu e Foina, artista plástico velho conhecido. Ouvidos atentos aos ecos urbanos, a Thiago Ferreira naqueles dias de burburinho, muitas ofertas pelos alto-falantes. Pedestres apinhados no calçadão de olhos nas vitrines. Grupos em torno das mesas mastigando ávidos. Num consumo frenético de sacolas e estômagos.
Estamos sempre discutindo a relação da cidade com a Arte, a Cultura propriamente dita. Da necessidade que os cidadãos deveriam ter de também consumir o "alimento pra cabeça". Parece-nos que não se dá na mesma medida ou quantidade. E a Arte um desses artigos supérfluos. Que com o tipo de consumo supracitado as pessoas perdem longas horas defronte ao espelho, senão naquele infrutífero esforço no banheiro.

[no detalhe da imagem à direita a Av. Thiago Ferreira, próspero centro comercial de Vte. Carvalho - SP]
"- Dizem que as más resoluções são próprias desta cidade..." - Concluí mencionando esta sentença irônica de Aristófanes sobre Atenas. Pois eu considerava os transeuntes ocupados demais pela sobrevivência.
Ele mesmo se dizia decepcionado com o tratamento imposto à Arte nos grandes centros. A ditadura do subjetivo gosto pessoal em detrimento da genuína expressão artística. Me contou de uma determinada ocasião que saiu às galerias apresentando seus trabalhos...
O marchand olhou daqui, admirou-se dali algum tempo boquiaberto. Nenhum o satisfazia. Ora intrigante demais, muito intelectual... Pouco vendável. Eis que pousou o olhar clínico numas folhas com grandes borrões psicodélicos. Sua aprovação foi geral, entusiasmada.
- Você me desculpe, mas estas folhas são onde limpo os meus pincéis. E as utilizei para embrulhar os desenhos. - Interrompeu Foina bastante constrangido.
Enfim fez negócio precisava comer. Sendo as manchas do acaso justamente aquilo que o especialista entendia como arte comercial.