__________ Itapema, suas histórias... __________

terça-feira, 19 de abril de 2011

"MALUCOS-BELEZA" DO ITAPEMA


Algo que desde cedo intrigou-me em ITAPEMA/SP foram seus tipos excêntricos, os chamados loucos, a vagarem pelos bairros. Sempre me pareceram muitos. Talvez devido ao tamanho da cidade. A maior concentração num raio de 100 metros estive observando. Pelas estatísticas oficiais isso deve ser algo normalíssimo... E até brinco às vezes, estar relacionado com alguma substância na água qual bebemos.
Nas imediações de onde moro consigo enumerar pelo menos cinco casos de marcante excentricidade, digamos assim. Outro tanto de acometidos por distúrbios controlados à base de remédios. Também vi pessoas de trajetória sã enveredarem de repente nos labirintos da "loucura"... Quem sabe, seja só paranóia minha. Não transformemos o Distrito no cenário insano de um conto de Machado de Assis.
Entretanto,  tal peculiaridade não chega a ser defeito pois promove situações saborosíssimas. Em sua maioria são pessoas amistosas, sem grandes problemas para a ordem pública. Como o camarada que se ri sem razão aparente, mas de uma marotice a garimpar moedas para a pinga. Outro achando-se motorista seguia pelas ruas de volante em mãos a dirigir um carro imaginário, e conforme dizem teria sofrido numa trombada.
"ELE NÃO SABE AONDE TÁ INDO, MAS TÁ NO CAMINHO DELE..."

Ainda aquele que solta descabidos imprompérios e esbraveja com um suposto alguém. Ou o catatônico capaz de ficar horas imóvel nos lugares mais inusitados. Recentemente, a extravagância motivou certo tipo a figurar nesta nossa extensa galeria. O tal reproduz a pedidos os jargões das campanhas publicitárias da tv.
Meu amigo Sebastian Michellod, suíço-portenho (Documentarista de viagem), do Blog 'CARNETS D'AMÉRIQUE LATINE', que por aqui esteve em 2008, olhar atento, captou com suas lentes algumas dessas figuras.
"EU JURO QUE É MELHOR NÃO SER UM NORMAL... MAIS LOUCO É QUEM ME DIZ, E NÃO FELIZ..."




[Alguns dos tipos captados por Michellod]

Assim, numa paráfrase de um poema de Carlos Drummond de Andrade, tornam-se os doidos municipais respeitáveis em sua condição. Passeiam pela cidade sua loucura mansa e têm reconhecido seu direito legítimo à insanidade.
Muito conhecido é um senhor protestante, batizado por alguns "Beato Salu" [foto abaixo], acreditando há décadas ser o novo Profeta, brada sua bíblia no ar a predizer o final dos tempos. Entre sentenças desconexas pode-se entender do seu linguajar peculiar:






- A ira de Deus cairá como fogo... Ainda há chance, pecador! - Os automóveis zunem pela avenida. Ciclistas passam aos deboches, enquanto ele faz do canteiro central seu pulpito. - O Salvador Jesus te chama. Livra tua alma da iniquidade... Vê os sinais dos tempos? Pois de dois mil não passará!!...
De fato, num desses surtos aproximavamo-nos da virada do século XX. E ainda que eu tivesse ouvido umas tantas vezes semelhante previsão apocalíptica dos evangélicos, esta jamais confirmou-se. Embora não fosse novidade nenhuma. Até onde fui informado pela ciência, ser daqui a "zilhões" de anos quando o Sol se apagar ou o acaso do universo colocar um asteróide na trajetória do planeta Terra... Esse é o fim próximo!
Imagino se afinal ele se cansasse de esperar o Dia do Juízo. Indagaria o pastor de sua igreja a respeito, já que o mundo seguia seu curso normal. Depois de muitas explicações teológicas envoltas em mistérios humanamente incompreensíveis, este concluiria que nos tempos dos apóstolos não havia calculadora eletrônica por isso erraram na conta. Uma explicação bastante lógica, triste seria lançá-lo à realidade permanente.
Enfim, "Beato Salu" teria a merecida aposentadoria. Certo de que ao seu posto já havia candidato garantido.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

BEM-TE-VI DE OLHO NO ITAPEMA

POETA BEM-TE-VI [ORLANDO SANTANA DA CRUZ].

Orlando Santana da Cruz, nosso poeta Bem-te-vi (denominação também de outros cordelistas afamados), tem uma estampa emblemática própria das figuras sergipanas míticas da minha infância, que por vezes me deparo nas ruas de Itapema.
O cabelo grisalho colado ao crânio, os óculos de aros retangulares, hastes finas. Completa o figurino a calça social e camisa de botões com mangas curtas. Talvez por gosto, ele dispense o chapéu de feltro escuro. Seus modos conferem-lhe uma distinção sobrenatural.
Nordestino do litoral sergipano, mais especificamente do Porto Grande (povoado de poucos habitantes entre o rio e o mar). Lá as moradas eram modestos casébres de pau-a-pique cobertos com palha dos muitos coqueiros. Nas cercanias mangues repletos de Aratus e pomares naturais de árvores frutíferas, típicas da região. Festejavam o Reisado, o Cacumbi e outras expressões do Folclore local. Vivia-se da pesca, caça e da roça... Aliás nem existe mais, confessa entristecido o poeta num causo de sua infância, foi tragado pelas areias trazidas das dunas existentes nas proximidades.
"(...)restando do povoado apenas a saudade... Ali naquela humilde aldeia nasci e me criei até os doze anos..."
MANUSCRITO DO POETA BEM-TE-VI
  
Não é dado à muitas palavras, Seo Orlando. Mas versador de cordel como poucos. Trouxe no seu coração aquilo que via nas feiras daqueles rincões. E foi no grupo de estudos 'Movimento de Cordel' (1997), reunido na Casa de Cultura 'Jaime Cubero' - ITAPEMA/SP, que ele já prosa glosava:
"Agora que já peguei
Do cordel o fio da meada..." - Nunca mais parou de escrever. Olhar crítico sobre os desmantelos da cidade. Produzindo cordéis "de época ou ocasião", seguindo "a nova modalidade de Cordel, com menor número de estrofes, mais sintética...", do grupo de estudos 'Movimento de Cordel'. Um jornalismo popular a esclarecer o povo.

"Quando pagamos passagem
 No preço está embutido
 Colocação de mais ônibus
 Pro povo ser atendido,
 Mas o que vemos deveras
 É nos pontos muita espera
 E o povo espremido."



[imagem à esquerda, o livro que resultou do grupo de estudos da Casa de Cultura 'Jaime Cubero'.]

Repórter da população sem deixar de ser poeta. Contundente como as vezes não é o jornal oficial, refletindo a realidade de maneira objetiva.
"Em Vicente de Carvalho
 Tem que dirigir com arte
 Há buraco em toda parte
 Está faltando cascalho
 E quem vai para o trabalho
 Da estrada é dependente
 E o carro se ressente
 Ao passar pela lombada
 Rua mal sinalizada
 Pode causar acidente..."

"Até nos Prontos-Socorros
 Falta ali tudo também
 Remédios e ambulâncias
 São coisas que não se tem
 Funcionários, enfermeiros
 Ganhando pouco vintém"

 CORDEL CIDADÃO DO POETA BEM-TE-VI. 

Bem-te-vi, poeta cultivador da literatura popular em versos, divulga esporadicamente seus cordéis através de publicações alternativas, ou envia aos amigos. Toda vida preocupado com os destinos do município e fustigando a classe política.
                         "Se realmente existisse
                          Um pouco de sinceridade
                          Ao invés de hipocrisia
                          Egoísmo e falsidade
                          Esta cidade seria
                          Quem sabe talvez um dia
                          Um paraíso de verdade..."