__________ Itapema, suas histórias... __________

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

GERALDO FERRAZ na Ilhaverde

TRECHO EM ITAPEMA-SP DA ROD. CÔNEGO DOMENICO RANGONI/SP-55[ANTIGA PIAÇAGUERA].

Geraldo Ferraz cruzava a Rodovia Piaçaguera (Km 2 - Leste), viu de relance a margem direita além. O sol a banhar a face noroeste da Ilha de Santo Amaro, pros lados da Bocaina... Emergiu-lhe um pensamento.
"(...)Certo arranjo fantasista indetermina tudo, e é esse mesmo concerto a relacionar homens e acidentes, possibilidades suspeitas remansosas..." [ao lado Geraldo Ferraz numa caricatura de Dino]
Eis ali na profusão de barracos, tomando os restos da Restinga itapemense, outra "Cordilheira" a abrigar Doramundos... De gente pobre. Seus limites nos levam a pobreza no fim da rua, o cemitério. Em que um passo é também o despenhadeiro.
Atravessa os estreitos daquela Guaru-ya caiçara. Agrada-lhe a fresca salsugem sobre a Enseada, ao longo da Miguel Stéfano... Por fim chega à Rua dos Coqueiros 396, na Praia do Pernambuco. A casa de tijolos à vista refulge na luz da tarde guarujaína. Acontecia ao apresentar a residência às visitas reconstituir os detalhes que fizeram a construção. 
"- Gostamos demais do projeto. Gregori Warchavchik foi muito generoso permitindo o gosto pessoal de Wega, utilizando material de demolição. Por isso seu estilo não está num estado puro, sendo ele o percursor dos cubos e ângulos retos de concreto. Contrário aos supérfluos ornamentais na construção." - Foi com comentários similares que ele inaugura na imprensa a crítica de Arquitetura. Assim como fazia criteriosamente para as Artes Plásticas e Literatura... Como esquecer a entrevista com o mestre arquiteto Le Corbusier, naquele distante ano de 1929 para o jornal 'Diário da Noite'?
Adentrou a casa imersa na música de Dolores Duran, enquanto Wega no mezanino imprimia "vermelhos oníricos às suas paisagens imaginárias".
"COM UM TOQUE TODO PESSOAL, GERALDO FERRAZ EXPLORA ATÉ OS LIMITES MÁXIMOS AS POSSIBILIDADES DAS PALAVRAS, NO PLANO FORMAL E NO CONTEÚDO."

Revistas, publicações diversas, livros, perfilados nas estantes, empilhados em armários davam a dimensão de sua trajetória. Familiarizado conseguia distinguir a lombada do seu romance mais notável, 'Doramundo', de 1957 e espremido entre outros tomos o primeiro livro 'A Famosa Revista', depois veio 'Guernica' sua incursão pela poesia...
Lá se iam muitos anos desde 1905, na infância em Campos Novos do Parapanema, interior de São Paulo. Não era mais o menino Benedito Geraldo Ferraz Gonçalves ávido pela leitura, mas canibal de idéias. Jornalista combativo. Ainda na década de 1920 fizera parte do Movimento Modernista junto com Oswald de Andrade, Raul Bopp, como Secretário da 'Revista  de Antropofagia'. Acompanhando de perto o desenrolar da Semana de 22 e a ação dos Modernistas. Em 1933 fundaria o jornal 'O Homem Livre', juntamente com Mário Pedrosa, Patrícia Galvão, Hilcar Leite e Edmond Moniz, voz opositora a Ação Integralista brasileira, ao nazismo e o fascismo.
Já entre os anos 40 participa do jornal 'A Vanguarda Socialista' e dirige a Agence France-Press. Exerce mais tarde jornalismo nos periódicos 'Folha da Noite', 'O Estado de São Paulo', 'A Tribuna de Santos', fundou e foi Secretário do 'Correio da Tarde'. [ao lado capa de outra publicação do autor sobre Arte Contemporânea]
O tec, tec, tec da Royal 10 faz contraponto rítmico com a música vinda do estéreo, dali a pouco batem levemente à porta do escritório. Deixaria para mais tarde o término do mais novo projeto, um livro de contos, 'Km 63'... Wega anuncia imodestamente seu talento culinário.
Após o jantar irrompia pela casa a voz expressiva de Geraldo Ferraz, além das escotilhas do mezanino. A gente da casa atenta ao derredor. Dum falar enigmático, qual a noite revelada aos poucos sob a luz das luminárias no jardim... Surpreendente e Maravilhosa!
"Tão abstrata é a idéia do teu ser
 Que me vem de te olhar, que, ao entreter
 Os meus olhos nos teus, perco-os de vista..." - O enteado Tão Gomes Pinto adorava o ressoar das palavras pelo alto "pé direito" da Ilhaverde. Ao amanhecer seria o típico domingo com o rebuliço dos artistas, escritores e suas conversas acaloradas sobre Arte. Como se existisse o ato contínuo da felicidade... Até que tudo aquilo estivesse somente então na memória de sua presença em 1979.




Depois da união das águas na praia, junto a Ilhota do Mar Casado, Geraldo adormeceu largando os óculos de sol num móvel da sala. [à esquerda GERALDO FERRAZ em bico de pena por Wega Nery]

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