__________ Itapema, suas histórias... __________

sexta-feira, 6 de junho de 2014

O AMOR BATE ASAS NO ITAPEMA

COLUMBINAS TALPACOTIS POUSADAS NA REDE ELÉTRICA EM ITAPEMA/SP.

Éramos  ainda duas crianças tolas, ocultando nosso amor dos adultos. Vivendo cercados naquele frágil universo de inocências, promessas de lealdade inquebrantável pelas cercas de ripa  que dividiam os quintais itapemenses.
Do mundo todo eu pretendia fazer-lhe um singelo presente. Frutas roubadas, punhados de flores apanhadas nos jardins  dos chalés da Vila Alice, vaga-lumes da Bocaina em troca de estrelas distantes. Tudo enfim, depositava a seus pés... Certa ocasião apareci com um par de aves num gaiolim.
- Nunca vi destas por aqui. - Colocou seu dedinho por entre as gradinhas como se quisesse acariciá-las , enquanto pululavam dos poleirinhos.
- Veio de outro lugar, sua boba.
- Do meio do mato?... Que coragem!
- Sou passarinheiro dos bons, sabia... Peguei numa arapuca que fiz.
- Que miudinhas!... - Seu meigo espanto tornava  as palavras doces, enamorado minha boca ressequia ansiosa.
- São deste tamanho mesmo... - Dependurei-as num galho penso duma Aroeira do terreiro para apreciarmos melhor.
ROLINHAS CALDO-DE-FEIJÃO ABRIGADAS NA VEGETAÇÃO URBANA ITAPEMENSE.

- Elas fazem um som engraçado , né... Uú, Uú, Uú!!
- São da espécie Columbina talpacoti. - Fala eu com certo esforço da pronúncia.
- Ave maria!...
- Tá escrito aqui nesta enciclopédia. Tem até um desenho.
- Gostei mais pessoalmente.
- O que te lembra?
- Deixa ver... - Aproximou mais seu lindo rosto da gaiola, ficando na pontinha das sandálias.  - Tem cor parecida com... Caldo de feijão!
- É um casal de rolinhas... Tu e eu! - Ela sorria. Aquela risada jamais esquecerei, pois furtivo engoli num beijo trêmulo. Eu também serelepe beija-flor. Surpreendendo-a entre a gaiola.
- Atrevido...! - Disse com dissimulada contrariedade.
Dedicávamos nosso afeto a vê-las bem cuidadas. Eram esses momentos de intensa alegria. Quirera sem querelas. Mas de repente, ela zangou-se comigo. Encantada por um outro canto, pensei. E pra me chatear ria debochada dos meus favores. Querendo que eu visse aquilo que meu coração temia enxergar...
Rompemos as juras, o namoro teve fim. Como se faz aos passarinhos quis prender o amor numa gaiola. No entanto, o amor teima bater asas.





Diante destes olhos, os dois pássaros arrulhavam cruelmente felizes. Cego de inveja eu os soltei na esperança de que eles também se separassem, cada qual num rumo incerto pelas árvores da cidade.
Quando as vejo pousadas aos pares nos fios da rede elétrica, ciscando nas ruas do Distrito, e das muitas que povoam o Itapema, é que me vem a nostalgia daquele remoto amor.

Nenhum comentário:

Postar um comentário