__________ Itapema, suas histórias... __________

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O FANTASMA DA MANGUEIRA SEM-VERGONHA

UM AMOROSO ENFORCADO SUICIDOU-SE NUMA MANGUEIRA EM ITAPEMA/SP [1923].

Passada a primeira hora assustadora, naquela madrugada do ano de 1923, trovões ribombavam por sobre o breu da noite estuarina itapemense. Murmurante vento adentro encrespa as águas do Estuário, sacudindo as catráias ancoradas, marulhando às margens da Prainha. Somente a luz do Farol de Itapema desvelando a madrugada.
Nos bananais dos Backheuser, sapos, pererecas, grilos cantigam excitados e as folhas das bananeiras desfraldavam-se ao sabor da ventarola. Pelos arredores do Bairro Vila Alice junto à Linha Férrea - Itapema/Gjá [Sp - 2066], um Homem caminha solitário, sem rumo. De repente toma a direção duma velha Mangueira ali plantada. Trepa num dos galhos pensos onde amarra firme uma corda, além de um nó para o seu pescoço...
A fauna noturna espantou-se ao vergar do galho, que não arrebentou. Dependurado o suicida expele longos peidos, toletes de fezes, tem banhada as pernas pela incontinência urinária. No derradeiro estrebucho um esguicho de esperma prostático escorrendo aos pés do tronco da Mangueira. Acompanhado dum pio de coruja, o enforcado parecia emitir palavras gorgolejantes:
- Porr... quêe?... Urrfff!!... Perr... dãoo!... - Sabe-se lá a resposta.
Durante a madrugada relâmpagos faiscavam acima das profundezas do céu, a luzir um vulto inerme balançando no ar. Duradouro temporal castigou ITAPEMA/SP, a chuva entranhou pela terra levando o sumo de dejetos do enforcado às raízes da Mangueira...
Assim que amanheceu gotejante, num violáceo alvorecer arriba do Morro Santo Amaro, saudado pelo gorjeio festivo da corruíra saltitante no galho do pé de manga... Alardeia um grito apavorante feminino a ressoar nas janelas dos chalés ladeando a Estrada de Ferro, acudido por moradores assustados... 
Um dos itapemenses enforcara-se dependurado na velha Mangueira à beira da Ferrovia. A motivação suicida teria sido certa desilusão amorosa. Fora traído pela esposa com outro. Embora demais esforçado, tinha parcas posses, sequer belezura admirável.
Entre pedregulhos e a erva-daninha do local, para mal-agouro dos passantes, nasceria certo tubérculo florescente, espécie de Mandrágora cujos frutos fétidos são qual "maçãs do diabo". Utilizada por catimbozeiras como chá, ralado pó para beberragens.
Desde então um inexplicável fenômeno passou a manifestar-se aos moradores que cruzavam o caminho da Mangueira. Quando mulheres passavam por baixo da árvore, o vestido ou sua saia eram levantados subitamente, sem que houvesse uma lufada de vento. Enquanto as mulheres ajeitavam-se encabuladas escondendo saiotes e calcinhas à mostra. Uma sem-vergonhice do Capeta, queixaram-se as senhoras ultrajadas. Seus maridos, pais e irmãos indignados com a estranha imoralidade. A ponto de estremecer alguns namoros e casamentos.
Logo reputou-se a Assombração do amoroso enforcado, o qual postumamente como vingança obsedara-se em envergonhar mulheres e homens. O irreverente Fantasma da Mangueira Sem-vergonha também divertia-se fazendo voar longe os chapéus de moços e senhores que lá passavam, sem que ao menos a folhagem da Mangueira farfalhasse na copa da árvore. Muitas vezes indo parar numa poça de lama ou embrenhando fatidicamente nas rodas da Maria-Fumaça passando no horário. A deixar seu dono atabalhoado atrás do chapéu.
Aparição mesmo, nunca se viu. Mas todos sentiam aquele arrepio percorrer-lhe a medula nervosa.
DO OUTRO LADO, MANGUEIRA PLANTADA NA PRAÇA DO POETA VICENTE DE CARVALHO - CENTRO DE ITAPEMA/SP, IMEDIAÇÕES ONDE O AMOROSO ENFORCADO SUICIDOU-SE.

O dito fenômeno paranormal ocorria na boca da noite, já depois da Ave-Maria. Várias pessoas surpreendidas na hora mística do lusco-fusco. As mais carolas juravam acontecer em plena luz do meio-dia. A gente do ver pra crer preferia acreditar ser coisa de moleques endiabrados, escondidos nas sombras das folhagens, que com vara e anzol pregavam peças nas pessoas.
Seus frutos amarelos-carnudos, sumarentos antes colhidos pelos moradores, pendiam até apodrecer nos ramos e cair. Temia-se, embora com boa aparência, estarem as mangas impregnadas dos miasmas corpóreos do amoroso enforcado. Dando-lhe um bizarro gosto.
Essa tal manifestação espírita impressionou deveras os moradores do antigo Itapema, até a Mangueira Sem-Vergonha vir abaixo em meados da década de 1940. Pois receavam cortá-la expondo a putridão de sua seiva amaldiçoada. Deixando de escandalizar o recatado pudor das moças do Distrito.
      

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